Incêndios e os Riscos para Biodigestores

25-09-2024

Proteja seus biodigestores contra incêndios durante a seca. Saiba como prevenir danos, explosões e contaminações com medidas práticas de segurança. Garanta a sustentabilidade da sua produção de biogás.

Brasil
Segurança e Prevenção de Riscos

Protegendo os Biodigestores em Tempos de Seca e Incêndios

A Crise dos Incêndios e o Risco aos Biodigestores.

Por Heleno, Crislaine e Fábio,

1. Introdução

O Brasil enfrenta uma grave crise hídrica, com secas prolongadas e incêndios florestais devastando vastas áreas. Nessa conjuntura, propriedades rurais, com suas infraestruturas, incluindo biodigestores, encontram-se em risco iminente. A combinação de estiagem, ventos fortes e práticas agrícolas inadequadas aumenta significativamente a probabilidade de incêndios, colocando em perigo não apenas a produção agrícola, mas também sistemas de produção de energia renovável a partir da utilização de biodigestores.

Antes de continuar, é importante estabelecermos alguns conceitos básicos: as queimadas são um tema complexo e com diversos nuances. É comum haver confusão entre os termos "queimada", "queimada controlada" e "incêndio florestal". Vamos desmistificar cada um deles, de acordo com Secretaria de Segurança Pública do Mato Grosso e o SENAR Paraná.


1.1. Queimada em uma Área Rural

    • Conceito: É o ato de atear fogo em uma área rural, geralmente com o objetivo de limpar o terreno para o cultivo ou para a criação de pastagens.
    • Características: Não possui um planejamento prévio detalhado, pode ser realizada de forma improvisada e sem as devidas precauções.
    • Impactos: Geralmente causa danos ao solo, à biodiversidade e à qualidade do ar, além de aumentar o risco de incêndios florestais.

1.2. Queimada Controlada

    • Conceito: É a utilização do fogo de forma planejada e controlada em áreas específicas, com o objetivo de realizar o manejo do ambiente natural.
    • Características: Possui um planejamento prévio detalhado, levando em consideração fatores como clima, topografia e vegetação. É realizada por profissionais capacitados e com autorização dos órgãos ambientais.
    • Objetivos: Reduzir o risco de incêndios florestais, renovar a vegetação, controlar pragas e doenças e manejar a fauna.

1.3. Incêndio Florestal

    • Conceito: É a ocorrência do fogo de forma descontrolada em áreas de vegetação, podendo ser causada por fatores naturais (raios) ou pela ação humana (intencional ou acidental).
    • Características: Se propaga rapidamente, causando danos significativos à fauna, flora e ao meio ambiente.
    • Impactos: Degradação do solo, perda da biodiversidade, poluição do ar e aumento do risco de desertificação.

Resumo

Característica Queimada em Área Rural Queimada Controlada Incêndio Florestal
Planejamento Ausente ou rudimentar Detalhado e prévio Ausente
Objetivo Limpeza do terreno Manejo do ambiente Destruição
Impacto ambiental Alto Baixo, quando bem executada Muito alto
Risco de propagação Alto Baixo, sob controle Muito alto

2. A Importância dos Biodigestores e os Riscos Associados

Biodigestores são sistemas que convertem matéria orgânica residual em biogás e digestato, respectivamente em um biocombustível e fertilizante orgânico. Eles desempenham um papel crucial na agricultura sustentável, reduzindo a emissão de gases do efeito estufa e gerando energia limpa. No entanto, a sua localização em propriedades rurais os torna vulneráveis a incêndios, que podem causar danos irreparáveis, como:

    • Explosão: O biogás é altamente inflamável, e um incêndio nas proximidades pode causar uma explosão, liberando gases da combustão e causando danos à infraestrutura.
    • Contaminação: A queima do material orgânico de infraestrutura do biodigestor pode liberar substratos, podendo contaminar o ambiente e afetando a qualidade do solo e dos mananciais.
    • Perda de produção: A destruição do biodigestor interrompe a produção de biogás e adubo orgânico, impactando a produção agrícola e a geração de energia. Esse impacto afetará diretamente o fluxo de caixa do processo de operação dos biodigestores.

3. Medidas Preventivas e Boas Práticas

Para proteger os biodigestores e minimizar os riscos de incêndio, é fundamental adotar medidas preventivas e seguir boas práticas, inspiradas em programas como as CIPAs (Comissões Internas de Prevenção de Acidentes).

3.1. Prevenção de Incêndios

    • Monitoramento constante: Utilize sistemas de monitoramento remoto para detectar focos de incêndio em tempo real e acionar rapidamente as equipes de combate.
    • Limpeza da área do entorno: Mantenha a área ao redor do biodigestor limpa e livre de materiais combustíveis, como folhas secas, galhos e palhas. 
    • Criação de faixas de contenção: Construa faixas de terra aradas ou cobertas com material não inflamável ao redor do biodigestor para conter a propagação do fogo.
    • Instalação de sistemas de detecção e alarme: Utilize detectores de fumaça e calor para alertar sobre a ocorrência de incêndio.
    • Plano de emergência: Elabore um plano de emergência detalhado, incluindo procedimentos para evacuação, combate a incêndios e contato com os bombeiros.
    • Equipe de combate a incêndio: grupo de organizado de pessoas que são especialmente capacitadas para que possam atuar numa área previamente estabelecida, na prevenção, no abandono e no combate a um princípio de incêndio.


3.2. Proteção do Biodigestor

    • Material resistente ao fogo: No projeto de biodigestores, se possível utilize materiais resistentes ao fogo e à alta temperatura.
    • Válvulas de segurança: Instale válvulas de segurança para liberar a pressão interna em caso de incêndio.
    • Sistema de resfriamento: Implemente um sistema de resfriamento para evitar o superaquecimento do biodigestor.
    • Isolamento térmico: Utilize materiais isolantes térmicos para proteger o biodigestor do calor externo.


3.3. Boas Práticas Inspiradas em Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (NR5 - CIPA)

    • Treinamento: Ofereça treinamento aos funcionários sobre os riscos de incêndio, procedimentos de emergência e uso de equipamentos de combate a incêndio.
    • Sinalização (identificação): Utilize placas de sinalização para indicar a localização do biodigestor, rotas de fuga e pontos de encontro em caso de emergência.
    • Inspeções regulares: Realize inspeções regulares no biodigestor e na área circundante para identificar e corrigir possíveis problemas.
    • Comunicação: Mantenha uma comunicação clara e eficaz com todos os envolvidos, informando sobre os riscos, as medidas preventivas e os procedimentos a serem adotados em caso de emergência.


3.4. Fontes de Informação

    • Corpo de Bombeiros: Consulte o Corpo de Bombeiros local para obter informações sobre prevenção de incêndios e normas de segurança.
    • Empresas fabricantes de biodigestores: Entre em contato com empresas fabricantes de biodigestores para obter informações sobre modelos, designer de projetos que priorizem medidas de segurança e uso de materiais resistentes ao fogo.
    • Universidades e centros de pesquisa: Consulte universidades e centros de pesquisa que trabalham com engenharia de segurança do trabalho, segurança de processo, engenharia mecânica nas áreas de combustão, bioenergia, entre outros, para obter informações sobre as melhores práticas de segurança.
    • Organizações internacionais: Consulte organizações internacionais como a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO), Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial (UNIDO) e o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) para obter informações sobre práticas agrícolas sustentáveis e prevenção de incêndios.


3.5. Medidas de prevenção em outros países

4. Medidas de combate às chamas e proteção dos biodigestores

Em períodos de estiagem e queimadas, proteger os biodigestores exige ações bem planejadas e rápidas. Uma abordagem é a implementação de barreiras naturais, como faixas de contenção ao redor dos biodigestores, que auxiliam na contenção do fogo. Essas faixas devem ser formadas por terrenos arados ou revestidos com materiais de baixa inflamabilidade, assegurando uma distância segura entre os biodigestores e as áreas de pastagem, cultivo ou florestas adjacentes.

Além disso, a vigilância das condições do clima de secas na região é importante para possibilitar uma reação ágil em situações de emergência. Quando incêndios afetam regiões próximas às propriedades, o plano de ação e resposta deve contemplar o desligamento imediato de todas as fontes de energia, de biogás e a ativação de válvulas de segurança para diminuir a pressão interna dos sistemas.

A instalação de detectores de fumaça e sistemas de alarme pode facilitar a identificação rápida da proximidade de chamas, acionando as equipes responsáveis por combater o fogo antes que ele alcance as instalações dos biodigestores. Além disso, recomenda-se que as propriedades adotem sistemas de resfriamento para prevenir o superaquecimento durante os incêndios florestais. Esse sistema, combinado com materiais resistentes ao fogo na construção dos biodigestores, minimiza os riscos de explosão e a poluição ambiental.

Capacitar as equipes de colaboradores de uma biodigestor e os produtores rurais em prevenção e combate a incêndios assegura que todos estejam preparados para agir de forma ágil e eficaz em situações de emergência, como a criação de brigadas de incêndio internas, compostas por colaboradores treinados especificamente para enfrentar incidentes de fogo.  

5. Conclusão

A proteção dos biodigestores em tempos de seca e incêndios exige um conjunto de medidas preventivas e boas práticas. Ao investir em segurança, é possível garantir a continuidade da produção de biogás e digestato, contribuindo para a sustentabilidade da agricultura e a mitigação dos efeitos das mudanças climáticas.

Referências Consultadas

Sobre os autores:

  • Heleno Quevedo de Lima - Engenheiro em Energia e Desenvolvimento Sustentável, Mestre e Doutor em Energia.
  • Crislaine Florzino Flor - Engenheira Sanitarista, Ambiental e de Segurança no Trabalho, Especialista em Biogás e Mestre em Engenharia do Ambiente.
  • Fábio Soares - Engenharia Química, Administração de Negócios, Pós Graduação em Gestão Ambiental, Mestre em Gestão Ambiental e Doutor em Energia. 

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