Autossuficiência energética: biogás do setor de produção de proteína animal
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Uma breve reflexão sobre a produção de biogás para autossuficiência energética das propriedades rurais.
Autossuficiência energética: biogás do setor de produção de proteína animal
Uma breve reflexão sobre a produção de biogás para autossuficiência energética das propriedades rurais.
Fábio Soares | Colunista do Portal Energia e Biogás — O grande desafio global ligado a descarbonização, tem motivado muitos produtores rurais a considerar o uso de fontes renováveis de energia nos seus processos produtivos. Assim associando a redução de passivos ambientais e geração de receitas com os seus insumos, o segmento de produção de proteína animal (as unidades de produção) está cada vez mais buscando soluções que contribuam para uma autossuficiência no que diz respeito a energia. Uma das alternativas que tem sido bastante utilizadas nos projetos de geração de energia no meio rural é a utilização de energia solar fotovoltaica.
Nos últimos cinco anos o mercado de energia solar no Brasil cresceu exponencialmente e no meio rural tem sido uma importante alternativa de geração de energia. Na mesma direção e mais recentemente, soluções de autossuficiência energética baseadas na produção de biogás tem se tornado cada vez mais atraente, porém ainda precisa sanar alguns gargalos para que sua presença na matriz energética aumente. Para ganhar corpo, há necessidade de iniciativas e políticas públicas e privadas no sentido de estimular e promover facilidades e incentivos para o crescimento da cadeia do biogás, assim como foi feito com o setor de energia solar.
Nesse contexto, o biogás surge como uma das alternativas mais sustentáveis, apresentando tecnologia em estágio avançado de escalonamento industrial.
Muitos benefícios e vantagens podem ser listados para os produtores rurais, além de solucionar um problema ambiental causado pelos impactos dos resíduos da produção animal, a produção de biogás torna-se uma fonte de renda significativa e que contribuí para a autossuficiência e sustentabilidade no empreendimento e negócios.
O biogás pelo fato de poder ser gerado continuamente a partir de diferentes substratos residuais, difere da energia eólica e da energia solar que possuem alto risco de intermitência. Com o biogás, é possível estocá-lo a custos baixos, ou na forma de matéria-prima (substrato residual), ou na forma de gás em gasômetros para biogás in natura, ou biogás tratado ou na forma de biometano (comprimido ou liquefeito). Além disso, devido à sua estabilidade, pode atuar como mecanismo regulador da intermitência das outras fontes.
Destaca-se que o biogás tem pegada negativa de carbono, pois não somente é de baixa emissão e mitiga a poluição que seria causada pela sua emissão ao meio ambiente, transformando-o em fonte de energia. Além disso, a produção do biogás, quando produzido a partir dos resíduos das atividades de produção de proteína animal, é também fator de segurança energética porque diminui as dificuldades de atendimento da demanda por energia elétrica em áreas rurais.
O setor de proteína animal já representa mais de 20% da produção de biogás no Brasil, segundo a Empresa de Pesquisa Energética - EPE. Somente a suinocultura representa 14%. No entanto está em franco crescimento. Portanto com essa participação na produção de biogás no país precisa se estruturar, além de precisar atenção do Poder Público e da iniciativa privada.
As principais aplicações do biogás que podem contribuir para a autossuficiência energética são: produção de energia elétrica, produção de biometano que pode substituir gás natural, Gás natural veicular - GNV, diesel e gasolina, assim como o seu processo de produção possibilita a produção de gás carbônico, amônia verde e hidrogênio verde, além da produção de digestatos.
O Digestato é um outro produto estratégico que pode possuir características que possibilite sua aplicação como biofertilizantes em sistemas de fertirrigação de lavouras.
Sobre uso energético do biogás, além do potencial para geração de energia elétrica e o potencial para o uso como combustível veicular, há também a possibilidade de um uso nobre para atender demandas térmicas em propriedades rurais e em agroindústrias.
Demandas como aquecimento de galpões, secagem de grãos, combustível para caldeiras, chamuscagem de carcaças, vassoura de fogo em granjas, combustível para campanulas para aquecimento , queimador infravermelho de forno, entre outras aplicações para substituição do uso de Gás liquefeito de petróleo - GLP, óleo combustível e lenha no meio rural.
Na mobilidade sustentável, o biometano pode ser utilizado como biocombustível em tratores, equipamentos agrícolas e caminhões, que hoje já possuem tecnologia comprovada e disponível no mercado nacional.
Como os custos dessas tecnologias ainda são onerosas no Brasil, os produtores rurais de proteína animal precisam se organizar em modelos de negócios que tornem os investimentos mais atrativos, somando esforços por meio de cooperativas e consórcios de produtores que em conjunto e com a contribuição de todos tornam os custos do negócio um risco menor. Para isso são necessárias políticas de incentivo do poder público e também investimentos do setor privado, pois empreendimentos dessa natureza são viáveis desde que haja um planejamento robusto e complexo que envolva toda a cadeia. Mas não é somente isso que torna esses investimentos mais atrativos, é preciso também a conscientização e capacitação para as operações e sustentabilidade, assim como visão de negócio como um todo, além da garantia de matéria-prima (fornecimento constante do substrato residual) para a continuidade e sustentabilidade do empreendimento.
“É necessária e bem-vinda a organização e mobilização de empresários, políticos, acadêmicos, pesquisadores e profissionais atuantes no setor da produção de proteína animal em prol do desenvolvimento de projetos para a produção de biogás e seus derivados.
Além de ser necessário, em paralelo poderá haver uma estruturação do segmento para disponibilizar facilidades para os produtores/investidores terem acesso a estudos e informações de viabilidade técnica e econômica para que possam tomar decisões acertadas e obterem o melhor resultado e retorno de seus investimentos.”
O setor carece de uma estrutura inovadora de suporte de profissionais que possam fazer a diferença na assistência direta ao produtor e aos investidores.
Já existe uma forte tendência de movimento nesta direção, tendo em vista que atualmente está crescendo a busca por essas alternativas de aproveitamento energético de resíduos animais e visando a autossuficiência energética nas unidades de produção de proteína animal.
Sem dúvida, a produção de biogás é um mercado em franca expansão e que trará muitos benefícios aos produtores, a toda a sociedade e ao país.
“Todos os esforços nesse sentido devem ser feitos como garantia da sustentabilidade.”
Referências consultadas
- BNDES - Biogás: a próxima fronteira da energia renovável (26/07/2018);
- CartaCapital - Biogás leva autossuficiência energética a produtores no PR (10/04/2014);
- Empresa de Pesquisa Energética - EPE, Balanço Energético Nacional (14/02/2023).
A coluna Horizontes do Biogás aborda questões importantes relacionadas com a gestão dos nossos resíduos para uma transição energética de baixo carbono.
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Autor: Fábio Soares Publicado em: fevereiro de 2023.
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