Entrevista: UBE
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Em uma entrevista exclusiva ao Portal Energia e Biogás, Carlos Catarozzo – Diretor da UBE América Latina apresenta um breve histórico sobre a empresa, as suas soluções na área do biogás e biometano, destaca os desafios, perspectivas e principais tendências do mercado brasileiro. Confira esse super bate-papo com Carlos Catarozzo.
Série BiogásBusinessBrasil
Biogás Business Brasil
A Série tem por objetivo oportunizar um espaço para apresentar empresas e empreendedores que se destacam com soluções para o mercado de digestão anaeróbia e produção de biogás.
Novo episódio: UBE
A UBE, também conhecida como UBE Corporation, é uma empresa global líder no setor químico e de materiais avançados. Fundada em 1897 no Japão, a empresa construiu uma reputação sólida ao longo dos anos, impulsionada por sua dedicação à inovação, qualidade e sustentabilidade.
A empresa se esforça para desenvolver e fornecer produtos e tecnologias que contribuam para a redução das emissões de gases de efeito estufa e o uso eficiente dos recursos naturais. Entre as várias soluções para diferentes segmentos, a UBE está envolvida em projetos relacionados a energias renováveis, como soluções de upgrade do biogás para biometano, visando promover uma economia de baixo carbono.
Confira a seguir a entrevista com Carlos Catarozzo.
Portal Energia e Biogás: Para os leitores que ainda não conhecem a UBE, poderia nos falar um pouco sobre a história da empresa, atuação no Brasil e a sua presença internacional, especialmente no setor de biogás para produção de biometano, CO2, hidrogênio, entre outros gases?
Carlos Catarozzo: A UBE é uma das maiores empresas químicas do Japão, com mais de 120 anos de história. Ela produz e comercializa polímeros de alta performance, especialidades químicas, além de atuar em mercados como cimento, materiais de construção, maquinário industrial, produtos de metal e eletricidade.
A UBE também é uma das líderes em membranas para a separação de gás, com mais de 35 anos de experiência no fornecimento de membranas de alto desempenho para diversas aplicações. Uma delas é a purificação de biogás em biometano e coletando CO2 com mais eficiência.
Constantemente a UBE aprimora e atualiza estas tecnologias cujo principal diferencial é a alta resistência ao H2S; é possível operar em concentrações superiores a 30.000 ppmv de entrada de gás nas membranas sem comprometer a qualidade do material. As resistências química e mecânica das membranas da UBE também garantem uma vida útil longa. A excelente permeabilidade e seletividade garantem um processo compacto com baixo CAPEX e OPEX.
Atuamos no Brasil desde 2010 com um escritório em São Paulo onde mantemos um time que garante suporte técnico e comercial para o mercado da América Latina.
Portal: A UBE anunciou em março de 2022 uma expansão em sua capacidade de produção de filamentos de poliimida para separação de gases. O que motivou essa expansão?
Carlos Catarozzo: Nos últimos anos, a demanda por membranas de separação, que removem o dióxido de carbono e outros gases do biogás para extrair biometano como produto final, cresceu rapidamente, especialmente na Europa e nas Américas (Norte e Sul), alavancado pelo crescimento das energias renováveis. Como a expectativa é que o mercado global mantenha este movimento, a UBE trabalha para melhorar ainda mais seu sistema de produção, expandir suas plantas e aumentar as capacidades existentes.
Portal: Como a UBE espera contribuir para a produção de biogás e a transição energética no Brasil?
Carlos Catarozzo: Atualmente, o Brasil ocupa a 9ª posição no ranking de países que mais produz energia a partir do biogás. Conhecendo este potencial de mercado e a conexão com nossas tecnologias, o objetivo da UBE é dar suporte à tropicalização do upgrade do biogás (apoiando mais projetos locais de engenharia), com mais conhecimento local, alta tecnologia, e alavancando a infraestrutura no país. Temos hoje uma equipe técnico comercial focada no mercado Brasileiro.
Portal: Quais são as principais aplicações das membranas para separação de gases produzidas pela UBE?
Carlos Catarozzo: A UBE começou sua pesquisa sobre materiais para membranas de separação de gás em 1978. Na época, participamos de um projeto, em escala nacional no Japão, cujo objetivo era desenvolver um novo processo de quimiossíntese e contribuir com a tecnologia de separação de gás.
A UBE instalou as primeiras membranas para recuperação de hidrogênio, criadas a partir de muita pesquisa, em uma refinaria de petróleo, de produção em massa, em 1986. Ampliamos a tecnologia e a aplicação destas membranas e instalamos a primeira para purificação de biogás em 1989.
Também somos a primeira e única empresa no mundo a desenvolver uma tecnologia especial que permite a desidratação do álcool usando membranas. Esta membrana de desidratação do álcool está sendo instalada em várias refinarias de etanol, especialmente nos EUA e na Europa, graças ao rápido aumento na demanda de bioetanol como um aditivo da gasolina.
Portal: Como as tecnologias da UBE em membranas para separação de gases podem ajudar na transição energética e redução das emissões de CO2?
Carlos Catarozzo: O caminho rumo à uma economia de baixo carbono certamente demandará investimentos para reduzir ou eliminar as emissões de gás de efeito estufa. Para atingir esta meta, uma das melhores ferramentas é a transição energética.
Graças à grande oferta de recursos renováveis neste mix de energias, o Brasil está à frente no tema, seguindo uma trajetória sustentável contínua para aumentar o uso de fontes limpas, como vento, sol e bioenergia, além de investir em novas tecnologias e em fontes de energia como o hidrogênio sustentável.
O portfólio de membranas da UBE segue a mesma direção, auxiliando os clientes no processo de redução/neutralidade.
Portal: Em que medida a demanda por membranas para separação de CO2 tem crescido nos últimos anos?
Carlos Catarozzo: O ano de 2022 terminou com ótimas notícias para o mercado Brasileiro de biogás. As estimativas é que a produção tenha alcançado 2,8 bilhões de metros cúbicos, um crescimento de 21,3% em comparação a 2021 e de 33% em comparação a 2020. Em 2022, pelo menos 56 plantas foram instaladas ou renovadas, além das 755 existentes, de acordo com a CIBiogás, um centro de referência em energias renováveis no país.
Se considerarmos os números acima, vemos que de 2019 (primeira membrana no Brasil na UDA – CIBIOGÁS) até agora, foram mais de 10 plantas usando a tecnologia de membranas no país. Este cenário aponta para uma outra tendência, o uso de resíduos agrícolas, resíduos sólidos orgânicos municipais, e rejeitos de esgoto para gerar energia.
Portal: Como a UBE está trabalhando para tornar-se uma corporação centrada em especialidades químicas com impacto positivo global no meio ambiente e na saúde humana?
Carlos Catarozzo: Desde que apresentou o plano de gerenciamento, a médio prazo, “Visão UBE 2030 Transformação - 1° Estágio”, em Maio de 2022, a UBE visa tornar-se uma corporação centrada em especialidades químicas que contribuam, globalmente, com o meio ambiente, com a saúde humana, e com o enriquecimento da sociedade.
Para atingir esta visão, a empresa investe, de forma eficiente, no gerenciamento de recursos que contribuam, globalmente, com questões ambientais e aumentem o volume de negócios de especialidades químicas. Na área de membranas para separação de gás, a UBE busca contribuir para o desenvolvimento sustentável do mundo expandindo seus negócios nas áreas ambiental e de energia, especialmente a partir do fornecimento de membranas para a separação de biometano.
Portal: Sobre o Programa Metano Zero que foi lançado no Brasil em 2022, como a UBE pretende colaborar com o programa para a expansão de novas plantas de biometano no país?
Carlos Catarozzo: O biometano é visto como um dos drivers para a mobilidade sustentável (meios de transporte). Este “combustível verde” está no centro de uma série de iniciativas ao redor do mundo e também foi priorizado pelo governo federal no Brasil. O programa Metano Zero estimula a transformação do gás de efeito estufa em biocombustível, com financiamento de bancos públicos e de empresas privadas como a UBE.
Nossa colaboração vem do suporte técnico a todos os projetos de upgrade de biogás, especialmente para abastecimento de veículos (área de transporte). Nossa membrana permitirá aos clientes atingir 95% ou mais de conteúdo de CH4, seguindo os padrões da ANP (Agência Nacional de Petróleo). O biocombustível pode substituir o diesel em maquinários pesados usados na agricultura e na produção, além de outras aplicações.
Portal: Em que medida o biometano pode ajudar o Brasil a alcançar suas metas de redução de emissões de gases de efeito estufa?
Carlos Catarozzo: A UBE espera apoiar as empresas o máximo possível até porque a questão climática se torna cada vez mais crítica e os países têm que atingir as metas de redução de emissões. Acreditamos que o biometano seja a solução mais eficiente por reduzir as emissões de gases de efeito estufa (GHG), eliminando a necessidade de compensação de crédito de carbono.
Portal: Quais são as principais vantagens do uso de tecnologias de membranas para separação de gases em comparação com outras tecnologias para o processo de upgrade de biogás?
Carlos Catarozzo: O uso da tecnologia de membranas permite que a separação seja feita continuamente, sob condições tranquilas, com um consumo relativamente baixo de energia e sem a necessidade de aditivos. Outras vantagens são a simplicidade do processo, baixa demanda de energia, baixa manutenção, independência de mudanças na composição do biogás, e não ser necessário o uso de qualquer líquido. A tecnologia também pode ser combinada com outros processos de separação, formando um processo híbrido.
Portal: Como a UBE enxerga o mercado global de membranas para separação de gases no futuro? Quais são as expectativas para o setor?
Carlos Catarozzo: Atualmente, existem cinco processos de upgrade. Das tecnologias existentes, a separação por membranas é a principal em capacidade instalada na América do Norte e na Europa, de acordo com o Biogas World’s Biomethane Market Intelligence Report de 2021.
Mais de ¾ das plantas de biometano ativas usam membranas de separação (47%); outras tecnologias empregadas para este upgrade são atrito por água (17%) e atrito químico (12%) (dados EBA Report 2022). Com estes números em mente e com a crescente necessidade de energias renováveis, a UBE acredita no futuro dos seus produtos e no aumento da demanda por membranas, globalmente.
Portal: Para finalizar, com o aumento da preocupação ambiental e a busca por fontes de energia renováveis, como está o cenário atual no Brasil para investimentos em negócios na área de separação de gases, principalmente biometano? É um momento favorável para empreender nesse setor?
Carlos Catarozzo: São esperados investimentos significativos no setor de energia. O Brasil é um dos maiores produtores de energia limpa do planeta e, globalmente, é o segundo maior gerador de energia hidroelétrica e o segundo maior produtor de biocombustível depois dos EUA.
Somente em 2021, mais de 24 milhões de toneladas de gases de efeito estufa foram evitados graças a estes biocombustíveis, sendo que o mais importante e disponível para uso imediato é o bioetanol, um produto brasileiro com origem nas plantações de cana-de-açúcar.
As campanhas públicas têm ajudado a aumentar a conscientização sobre as mudanças climáticas e sobre as formas de conservar a energia. Enquanto a adoção de veículos elétricos é morosa no país, os carros híbridos, que podem usar um mix de gasolina e etanol, conhecidos como veículos “flex”, também se tornaram muito populares desde seu lançamento em 2013.
O Brasil tem as condições perfeitas para o plantio de cana-de-açúcar: clima quente e úmido; muita terra agricultável; e avançada tecnologia agroindustrial. E a produção de etanol, que começou a partir de uma demanda local, tornou o Brasil o maior exportador de etanol do mundo, responsável por 90% de todo o mercado global.
Os benefícios ambientais e sociais, em comparação com a gasolina, são inestimáveis. Entre eles a redução da poluição do ar e das emissões de carbono, assim como a criação de centenas de milhares de empregos no setor.
Por todos estes fatores, as membranas terão um papel fundamental no suporte à indústria a partir de mais tecnologias e novos investimentos.
AGRADECIMENTOS
O Portal Energia e Biogás® agradece em nome do Carlos Catarozzo, assim como aos demais colaboradores da UBE, pelas valorosas contribuições para desenvolvimento dessa entrevista exclusiva.
Sobre a série BiogásBusinessBrasil
A Série é uma iniciativa do Portal Energia e Biogás® com o objetivo de oportunizar um espaço para apresentar empresas e empreendedores que se destacam com soluções para o mercado de digestão anaeróbia e produção de biogás.
São soluções para redução de passivos ambientais por meio da digestão anaeróbia, produção de bioenergia, produção de biofertilizante e desenvolvimento de novos modelos de negócios baseados na produção de biogás. Esses são alguns exemplos de ações estratégicas para processo de descarbonização e economia circular que muitas empresas demandam e algumas já adotaram.
Conheça um pouco da jornada de empresas/empresários que buscaram informações, estabeleceram metas, atuaram com planejamento e monitoramento sistemáticos para desenvolver oportunidades. Encararam desafios que demandaram iniciativa, persistência, comprometimento, independência, autoconfiança e persuasão. Com muita empatia conseguiram estabelecer uma rede de contatos essenciais para seus negócios e passaram a desenvolver projetos com exigência de qualidade e eficiência. Hoje conseguem entregar excelentes resultados, graças a experiência e conhecimentos calibrados para minimizar riscos.
Nessa temporada 2023, entrevistas com grandes empresas e empresários de destaque no setor do biogás.
Aguarde, em breve novos episódios!
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