O Futuro do Biogás - Gilberto Martins e Antonio Celso

Tempo de leitura: aproximadamente 7m17s

Acompanhe o 10º episódio da série "O Futuro do Biogás" e descubra como a digestão anaeróbia em micro e pequena escala pode transformar o setor energético no Brasil, com foco na substituição do GLP.

O Futuro do Biogás - Gilberto Martins e Antonio Celso
Foto: Divulgação/ Canva PRO
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Série Especial
O Futuro do Biogás

A viabilidade da digestão anaeróbia em micro e pequena escala no Brasil

10º episódio: Biodigestores compactos e acessíveis para uso diário em residências, escolas e pequenos estabelecimentos.

Apresentação

O Portal Energia e Biogás tem o prazer de apresentar o décimo episódio da série 'O Futuro do Biogás'. Nesta edição, dois pesquisadores da Universidade Federal do ABC (UFABC), o Prof. Dr. Gilberto Martins e o doutorando em Energia (PGENE) Antonio Celso aceitaram o convite para compartilhar suas perspectivas valiosas sobre os desafios e as oportunidades no setor de biogás. Acompanhe suas reflexões e insights sobre a questão em foco:

“Qual é o futuro do biogás para uma matriz energética mais sustentável no Brasil?”

Por Gilberto Martins e Antonio Celso

A digestão anaeróbia é um processo complexo que envolve um consórcio de micro-organismos (bactérias e arqueias) que conseguem transformar materiais orgânicos como os carboidratos, proteínas e gorduras em um gás, conhecido como biogás, composto basicamente por metano (CH4) e gás carbônico (CO2), além de pequenas quantidades de amônia (NH3) e sulfeto de hidrogênio (H2S), em condições anaeróbias (ausência de oxigênio molecular).

Todos nós produzimos matérias primas para esse processo: os resíduos orgânicos domésticos (o lixo da cozinha, por exemplo), mas nos livramos dele apenas colocando-o na frente de nossas casas, embora algumas cidades incentivem a separação dos recicláveis em relação aos demais resíduos. De qualquer forma, nosso lixo doméstico será recolhido e encaminhado a um aterro sanitário (na melhor das hipóteses) às vezes localizado centenas de quilometros de distância, consumido combustíveis fósseis para seu transporte e destinação e emitindo biogás, que em apenas alguns aterros no Brasil (19 ou 20) são aproveitados para a produção de eletricidade ou de biometano (biogás purificado com pelo menos 90% de metano em sua composição).

Embora o Brasil tenha um enorme potencial de produção de biogás de diversas fontes, estimada em cerca de 82,5 GNm³ por ano, desses cerca de 2,4 GNm³ exclusivamente devido à fração orgânica dos resíduos sólidos urbanos (EPE, 2021), a produção de biogás em microescala poderia reduzir o consumo de gás liquefeito de petróleo (GLP) para cocção em residências, pequenos restaurantes, comunitários e industriais, uma vez que os resíduos por esses gerados são matéria prima de alta qualidade para a produção de biogás e já estão segregados na fonte.

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Recente iniciativa do Governo Federal parece ter se dado conta que esse potencial está ainda inexplorado no mercado nacional  (Governo esquematiza projeto para substituir o gás de cozinha em regiões isoladas), abrindo caminho para iniciativas de empreendedores e iniciativas de organizações não governamentais para o desenvolvimento de tecnologias de digestores anaeróbios de pequena escala (até 10 m³) para produção de biogás visando a substituição do consumo de GLP (botijão de gás).

A microdigestão anaeróbia tem sido foco de ações e pesquisas (TIAN et al, 2021,2023) pelo mundo sendo que a empresa Biotech, na Índia, vem produzindo biodigestores para essa escala desde 1994. No Brasil há diversos modelos disponíveis no mercado, tais como o Homebiogás, o Lavosier da BGS Equipamentos, Boitatá (Digestor Anaeróbico de resto alimentares - Open Hardware), entre outros.

O fortalecimento da microdigestão passa pelo desenvolvimento de reatores mais robustos e com custo mais baixo, permitindo uma baixa taxa de manutenção e simplicidade de operação, isso associado ao fato de operarem de forma associada às fontes geradoras (segregação na fonte, redução do transporte, educação ambiental, etc), pode vir a tornar a microdigestão anaeróbia uma tecnologia viável e sustentável.

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Referências Consultadas

  • Boitatá: biodigestor doméstico. Projetado por Antonio Celso Cavalieri Lins de Souza. Disponível em: boitata.eco.br Acesso em: 04/09/2024.
  • Biodigestor Urbano - BGS Equipamentos. Disponível em: Biodigestor Urbano Lavoisier Acesso em: 04/09/2024.
  • Biotech Renewable Energy - Bio gas Resource Center, Índia. Disponível em: biotechbiogas.com Acesso em: 04/09/2024.
  • C L Souza, A. C., & Martins, G. (2022). Biodigestor Boitatá: possibilidades para a recuperação energética descentralizada. Revista RedBioLAC, 6(1), 4–9. Disponível em: Revistaredbiolac.org/article/view/22 
  • Giovani Vitória Machado et al. EPE - Potencial Técnico do Biogás de Resíduos, Análise para o período de 2021 a 2031. Junho de 2023. Disponível em: epe.gov.br/publicacoes-dados-abertos Acesso em: 04/09/2024.
  • Potencial de biogás no Brasil - ABiogás. Disponível em: abiogas.org.br Acesso em: 04/09/2024.
  • Sistema Doméstico de Biodigestão - Homebiogas. Disponível em: homebiogas.com.br Acesso em: 04/09/2024.
  • TIAN, H. et al. Life cycle assessment of food waste to energy and resources: Centralized and decentralized anaerobic digestion with different downstream biogas utilization. Renewable and Sustainable Energy Reviews, v. 150, 2021.
  • TIAN, H. et al. Life cycle assessment and cost-benefit analysis of small-scale anaerobic digestion system treating food waste onsite under different operational conditions. Bioresource Technology, v. 390, p. 129902, dez. 2023.

    Sobre os autores

    Prof. Dr. Gilberto Martins,

    Possui graduação em Engenharia Mecânica pela Universidade Estadual de Campinas (1985), mestrado em Engenharia Mecânica pela Universidade Estadual de Campinas (1989) e doutorado em Engenharia Mecânica pela Universidade Estadual de Campinas (1996). Atualmente é professor titular da Universidade Federal do ABC. Tem experiência na área de Engenharia de Energia, com ênfase em Recuperação energética de resíduos, atuando principalmente nos seguintes temas: uso eficiente da energia, cogeração, recuperação energética de resíduos sólidos, digestão anaeróbia. Lattes | LinkedIn

    Antonio Celso C L Souza

    Possui graduação em Física (IFGW/Unicamp -2013), mestre em Energia (PGENE/UFABC - 2021) e doutorando em Energia(PGENE/UFABC).Atualmente é educador de arte e tecnologia - Serviço Social do Comércio - SP. Tem experiência em ensino de Física e divulgação científica, atuando principalmente nos seguintes temas: ciência aberta, cidadã e de quintal, instrumentação científica aberta e recuperação energética e de nutrientes descentralizada de resíduos sólidos urbanos. Lattes

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